8/12/2010

UMA JANELA DE OPORTUNIDADE

À medida que o verão aperta verificamos que – e apesar das tentativas rascas de voltar a recolocar o caso Freeport na agenda – a temperatura política, em contraste com a meteorológica, arrefeceu. Mesmo a trágica onda de incêndios, porventura porque se tem a consciência de que as autoridades de protecção civil têm reagido de um modo coordenado, não tem servido de pasto para aproveitamento político, o que, aliás – e oxalá não me engane – poderá revelar alguma maturidade por parte das oposições. Parece-me assim importante abordar a questão das presidenciais, tema que forçosamente estará na ordem do dia nos próximos tempos.
Começo por uma declaração de interesses: apoio Manuel Alegre há mais de um ano (e ele sabe disso) e, ao contrário da opinião de muitos, julgo que haverá, ainda, uma janela de oportunidade para a sua eleição, embora essa mesma janela, não vá estar sempre entreaberta.
Cavaco, pela ambiguidade com que geriu a coabitação (que “bela” comissão de inquérito não teria dado o caso Fernando Lima, até ao momento única situação comprovada de condicionamento da comunicação social por parte do poder político, tentativa contra o “Estado de direito”) e pelo modo específico como descontentou uma certa direita mais ideológica, não fora a profunda crise económica que atravessamos, poderia estar em maus lençóis.
Estas dificuldades estruturais de Cavaco poderão constituir a tal janela de oportunidade para Alegre, mas parece-me que ainda não está a ser devidamente aproveitada.
É preciso que Manuel Alegre desfaça rapidamente o equívoco que deixou criar com o surgimento em cena, fora de tempo, de Francisco Louçã, e que se dirija, sem complexos, mas também sem arrogâncias, aos militantes e eleitorado do PS. Que admita as dificuldades construídas com a sua passagem recente pelo Parlamento, que admita eventuais erros e naturalmente méritos, mas que assuma sempre a sua condição de socialista.
Só se conseguir mobilizar os militantes do PS é que terá um “exército” para este combate.
Em simultâneo tem de dar combate a Cavaco.
Denunciar-lhe a agenda (escondida) de desestabilização política, apontar-lhe os erros e as graves tentativas de condicionamento da opinião pública mediante a utilização da sua equipa de assessores e a tentativa de procurar agora reescrever a sua própria história, são pontas por onde deve pegar.
Em simultâneo, tem de apresentar o seu modelo para a Presidência e mobilizar para o voto os tradicionais abstencionistas.
Se houver uma segunda volta, Alegre ganha.
Penso que se perdeu algum tempo, mas com determinação ainda se poderá recuperar.