7/19/2010

DEMOCRACIA SOB ATAQUE (Parte I)

Não pretendo com esta reflexão “ilibar” os sucessivos erros da classe política nem desvalorizar os erros de governação cometidos ao longo das 2 últimas décadas, dos quais, naturalmente, o governo do PS também não está isento. O que pretendo é abordar aquilo que considero um ataque deliberado, premeditado, à democracia e às instituições democráticas, desencadeado algures, por grupos de interesses, económicos e corporativos, que visam substituir o actual quadro de democracia representativa, por qualquer outra coisa, ainda “opaca” quanto aos seus contornos, mas que a ter vencimento, poderá resultar num outro regime, de “democracia selectiva”, isto é, só permitida a alguns, porventura auto-eleitos, em nome de uma pretensa intelectualidade e seguramente, em nome de uma classe económica dominante.
Acompanho Mário Soares quando este afirma que a grande questão da actualidade é saber se a política deve dirigir a economia ou, se, será o seu inverso.
Ora, acontece que a forma ideológica que sustentou a globalização económica foi dominada pela ideologia neo-liberal, assente precisamente na predominância do poder económico sobre o poder político. Foi assim nos EUA com Reagan, Clinton e Bush – e por isso se explicam as actuais dificuldades do Presidente Obama – foi assim pela Europa fora e tem sido essa a tendência que se tem verificado em Portugal, aqui apenas mitigada devido ao tradicional forte peso do Estado no proteccionismo económico, que embora indesejável, criou apesar de tudo uma classe empresarial dependente da subsídio dependência.
Mas os ventos desta globalização têm-se feito sentir de um modo mais acentuado nos últimos anos em Portugal, nomeadamente após a adesão à moeda única, em si um facto positivo, mas igualmente potenciador do “peso” desta ideologia neo-liberal. Grupos económicos cada vez mais influentes no poder, promiscuidade entre ambos, disputas pelo controle dos meios de comunicação são algumas das evidências desta procura de supremacia do poder económico sobre o poder político.
Por outro lado, a tradição corporativista herdada do fascismo, surpreendentemente, não foi desfeita com a Revolução da Abril, antes pelo contrário, “democratizou-se” o corporativismo, criando-se na sociedade um vasto conjunto de interesses específicos, por vezes contraditórios, mas detentores de um enorme potencial de chantagem junto do poder político, capazes alguns, de poderem paralisar sectores fundamentais da nossa economia ou, da própria ordem social.
É neste quadro que se devem interpretar alguns fenómenos recentes que se têm observado na comunicação social, na sua quase totalidade propriedade destes grupos económicos e, frequentemente, assumindo obsessivamente a promoção de interesses particulares, específicos, de natureza corporativa.
Combater o poder político – ainda não completamente rendido ao poder económico – mediante a mobilização criteriosa da contestação de interesses corporativos – tem sido a estratégia utilizada que importa compreender….
Em próximo texto procurarei particularizar esta reflexão à luz de alguns casos concretos e recentes.

1 comentário:

  1. Excelente análise política sobre os acontecimentos recentes na política portuguesa. Concordo plenamente e vou acompanhar de perto os próximos textos.

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